quinta-feira, 5 de abril de 2012

Livro: Cuidado, Trabalho! - Perversões e Contradições da Vida na Selva Corporativa - Editora Saraiva - THOMAZ WOOD JR

Thomas Wood Jr: Cuidado, trabalho!

·         Wood Jr. Thomaz Wood Jr. é professor da FGV-EAESP e sócio da Matrix/
Consultoria e Desenvolvimento Empresarial. Ele é atualmente editor da RAE-Revista de Administração de Empresas...

Cuidado, trabalho!

Vivemos em uma sociedade de organizações; dependemos delas para nossa sobrevivência e para o progresso social, entretanto, nossa relação com as organizações é ambígua e marcada tanto por prazer e satisfação, como sofrimento e dor. E, no centro dessas ambigüidades e contradições, está o trabalho.

Para os gregos, antiguidade clássica, o trabalho e o comércio eram atividades vis que não deveriam ser exercidos pelos cidadãos de Atenas e Esparta. Estes deveriam se dedicar à Filosofia, à Guerra e a Política. Os escravos, e as mulheres, na proporção de 10 para 1 cidadão, cuidavam dos afazeres. Enquanto o comércio era atividade reservada aos metecos, estrangeiros (imigrantes legais e ilegais de hoje?). O Império Romano assimilou bem este modo de ver o trabalho....

Meteco era uma designação dada aos estrangeiros nas cidades-estado da Grécia... De fato, grande parcela da economia ateniense era realizada pelos metecos.

Na Idade Média o trabalho foi revestido de “Redenção do Pecado Original. Porta para o Paraíso” – “Com o suor do teu rosto passarás a obter teu sustento. E te redimirás da asneira do Adão”. Lógico que os Santos Homens, da Santa Igreja, não precisavam de redenção.Muito menos os Nobres, que não tinham pecados a purgar, ou tinham recursos para comprar Indulgências, dos Santos Padres, que as vendiam....

Depois das trevas medievais veio o renascimento. O trabalho ganhou status e passou a ser uma forma de auto-expressão. Foi o momento de glória do artesão, cujo trabalho é sustento e arte. O artesão é o artífice de sua própria sobrevivência e agente de transformação do mundo ao redor. Para ele importa o produto e importa a criação.

Paradoxalmente, a industrialização, ao disciplinar corpos e mentes, tornou-se o momento máximo de glória do trabalho e do trabalhador, que são, afinal, duas entidades construídas, a golpe de foice e martelo, discurso e panfleto. Porém, como se sabe, toda glória é passageira.

Preparar-se para um processo seletivo significa preparar-se, mostrar vontade e capacidade. Vender é diferente: pressupõe focar a embalagem e o jogo de cena. Significa também reconhecer que fomos"coisificados", transformados em artigos que valem mais pela aparência que pelo conteúdo. No mundo atual, vale tudo para se conseguir uma vaga n'algum emprego. Como resultado temos: os processos seletivos se transformaram em grandes simulacros, com personagens improváveis tentando desempenhar papéis impossíveis . Mais grave: de tanto lermos e repetirmos os clichês -"vender a si mesmo", "criar uma marca pessoal" e "encantar o cliente" - incorporamos os conceitos como naturais e os transportamos para a vida pessoal.

Executivos são seres destinados a tomar decisões. Alguns praguejam e protelam, esquivam-se ou se escondem. Outros se lançam às decisões com a tempera dos exterminadores, a aniquilar e atropelar o que surge pela frente. "Matar um leão por dia", não importam as conseqüências. Alguns executivos, lideram empresas com posições consolidadas, em ambientes relativamente tranqüilos. Outros, no entanto, são expostos às intempéries de ambientes hiper competitivos e trabalham no limite da vertigem. O grau de demanda pode variar ao longo do tempo, conforme tempestades e calmarias se alternam. Além disso, cada executivo tem suas competências e suas capacidades. Um profissional pode ser capaz de gerenciar uma média empresa, mas não saber como tocar uma grande corporação; pode ser bem-sucedido em uma grande empresa local, porém experimentar dificuldades em uma multinacional, ou se sair bem nesta ultima e não saber lidar com as peculiaridades de uma estatal ou ONG.

Trabalhar sob pressão não é necessariamente ruim. Até certo ponto, ajuda a melhorar o desempenho e, conseqüentemente, aumenta a satisfação com o trabalho. Entretanto, depois dessa fase, o desempenho e a satisfação começam a declinar. Alguns ficam paralisados com cargas de trabalho percebidas como muito altas. Outros tentam responder com aumento de horas ou do ritmo de trabalho e eventualmente começam a cometer erros. Quando tal nível é muito alto, os executivos simplesmente não vêem como responder de forma estruturada. 

A saída é buscar um caminho mais curto e, assim, responder de alguma forma às questões que se colocam. O primeiro atalho, muito comum, é reproduzir uma decisão anterior, algo que funcionou antes, seguindo um caminho conhecido e confortável, mesmo que o contexto ou as condições sejam diferentes. O segundo, também usual, é imitar outros executivos, mimetizando suas decisões: executivos que se sentem incapazes de realizar análises e desenvolver soluções para problemas de suas empresas tendem a buscar modelos em outras empresas. Os dois atalhos são atraentes, porém apresentam riscos consideráveis . Nem sempre o que funcionou antes funciona agora. Nem sempre o que é bom para o vizinho tem uso em casa. Atalhos podem parecer soluções práticas, mas, desconsiderar o contexto pode causar catástrofes.

"A vida na montanha russa pode viciar, mas a queda do alto pode ser fatal."

Fala-se a respeito da dificuldade dos contemporâneos em dizer "não". Dentro desse contexto, podemos perceber as duas teorias: a X pressupondo que o homem é um ser ladino e ardiloso. Já na Y, pressupondo que o homem é um ser confiável e cooperativo. Impera, por isso, uma cordialidade de fachada, alimentada antes pelo temor que pelo respeito. Nas empresas locais, expor discordâncias e fazer críticas profissionais é colocar em risco a relação e, freqüentemente, o próprio pescoço. Mas tal dificuldade em dizer uma negação é de tal modo prejudicial ao indivíduo, pois assim atolam-se em atividades secundárias, invadem, a trabalhar, noites e finais de semana, para cumprir o aceito, e acabam prejudicando a própria saúde e qualidade do trabalho. Negar conflitos alimenta um ambiente de falsa harmonia e inibe a percepção de problemas e ameaças. No longo prazo tal comportamento pode comprometer resultados e colocar em risco a sobrevivência da organização.

As competências de comunicação significam, oficialmente, estimular os executivos a interagir de forma mais aberta com seus pares, com seus chefes, com seus liderados e com o mundo exterior. Na prática estimula-se a disputa por prestígio e vantagens, movimentada pelo emprego de técnicas de gerenciamento da impressão.

Nas diferentes personalidades das pessoas,vemos que o foco do introvertido é seu mundo interior, de idéias e conceitos. Já o foco do extrovertido é o mundo exterior, as pessoas e atividades.

O que explica a longevidade da terceirização? O discurso oficial é pomposo: as empresas devem se concentrar em suas "competências centrais" e alocar a terceiros as atividades não-essenciais. Muitas organizações usam extensos contingentes de mão-de-obra terceirizada para fugir dos impostos e do excessivo rigor da legislação trabalhista. Em casos variados, é questão de sobrevivência. Na prática é sucesso devido a nossa “laborfobia”. Herança de nosso passado escravocrata – presente em muitas mentes – a “terceirização clássica”. Os funcionários se agitam em reuniões, saguões de aeroportos, etc. Reinando sobre um exército de terceiros. Desde os call centers, passando pelos terceiros do socorro das seguradoras e chegando ao outsourcing de desenvolvimento, e suporte, de sistemas de informações (geralmente na Índia!)

No contexto social, quanto mais as hordas avançam, mais difícil torna-se convencer alguém de algo em que já não acredite. Nas relações nota-se a expressão: "gosto de você, você pensa como eu". Na vida corporativa, como na vida social, as pessoas parecem dizer mais o que se espera que elas digam do que o que realmente pensam.

Para que algo se realize, é preciso que os envolvidos evitem posturas defensivas e procurem entender seus interlocutores. O objetivo do diálogo não é vencer, mas entender as razões e a estrutura lógica dos outros. Para isso, é preciso suspender pressupostos e preparar-se para mudar de idéia, se necessário, diversas vezes.

A presença feminina no topo não é apenas uma questão moral, relacionada à igualdade de oportunidades, mas também uma escolha sensata, pois aumenta a diversidade de perspectivas, enriquece o processo de análise de problemas e a tomada de decisão, e tempera o estilo de liderança.

Em pesquisa nota-se que, geralmente, os notáveis são disciplinados, adotam regras simples, usam o bom senso e evitam as tecnologias sofisticadas. Conclusão: menos é mais.

"Nossa razão de existir é alavancar os meta serviços de alto impacto de nossos clientes", ou "Nosso compromisso é utilizar assertivamente nosso capital intelectual para maximizar nossa competitividade no mundo do futuro."

As crises são geradas internamente numa empresa e não são inevitáveis.

A síndrome do esgotamento relaciona-se a quatro características supostamente positivas: alta taxa de crescimento, habilidade para mudar continuamente, liderança visionária e uma cultura orientada para o sucesso. O problema reside justamente na abundância desses fatores. Muito crescimento e mudança, podem levar ao descontrole e liderança visionária e cultura forte ao excesso de confiança e ao autismo organizacional.

A síndrome do envelhecimento prematuro é o espelho invertido da síndrome de esgotamento. No lugar da hiperatividade, as empresas que sofrem desse mal exibem comportamentos passivos.Não inovam em seus produtos e serviços, perdem participação de mercado, destroem valor e seguem, resignadas, rumo ao fim.

Estimular a competição dos funcionários pode ser tão destrutivo quanto criar um ambiente excessivamente "amigável", que desencoraja o desempenho individual.

O papel do gestor é organizar recursos, inclusive pessoas, para que a organização atinja seus objetivos. Entretanto duas teorias opostas definem a forma como os gestores percebem a motivação dos funcionários e estabelecem sua abordagem gerencial. A X : o trabalho é desagradável e os indivíduos tentam a evitá-lo; a capacidade criativa e a iniciativa para resolver problemas organizacionais são características incomuns; falta de desejo pela responsabilidade na maioria das pessoas.A ação dos gestores neste caso é a supervisão cerrada, controle rígido e ações de coerção.

A teoria Y: em condições favoráveis o trabalho pode ser algo natural e prazeroso; comprometidos, os indivíduos são capazes de  conduzir ações autônomas e de ser criativos para atender aos objetivos da organização; presença de responsabilidade devido à presença da criatividade e iniciativa. Neste caso os gestores implantarão estruturas descentralizadas, tentando a alinhar os objetivos da organização aos dos funcionários, delegando mais poder de decisão aos níveis operacionais , promover a participação.Uma organização dessa forma deve ser mais produtiva, inovadora e capaz de satisfazer as necessidades de seus funcionários.

Um grupo de alpinistas que se perdeu, achou um mapa, por acaso, no fundo da mochila, o que lhes salvou a vida. Depois descobrem que o mapa não era dos Alpes e sim dos Pireneus. Moral: ter um mapa, qualquer que seja, talvez seja mais importante do que ter o mapa certo.

"A tecnologia é intrusiva e onipresente; o efeito de sua disseminação é que temos cada vez menos tempo para nós mesmos e cada vez menos controle sobre nosso destino."

O trabalho para preservar um bom nome começa dentro de casa.

Empresas com boa prática da diversidade, como política de gestão de pessoas, geram ganhos para a imagem da empresa, que passa a ser percebida como mais correta e justa, o que ajuda a atrair talentos e consumidores. No entanto, empresas com alta diversidade enfrentam maiores taxas de absenteísmo e rotatividade.

Numa citação diz-se que : nem todos os pobres sentem-se mal por serem pobres, mas , se notam que um vizinho está progredindo mais rapidamente, então surge o desconforto.

Uma pequena empresa, ou uma unidade de negócios, podem atender o mesmo número de clientes e prestar os mesmos serviços com 50 funcionários ociosos, com dez funcionários estressados ou com dez trabalhando em ritmo saudável. O que faz a diferença é, principalmente, a forma como o trabalho é organizado e os sistemas adotados, além da qualificação dos profissionais; noutras palavras: gestão.

"Trabalhamos muito porque não nos dedicamos a trabalhar direito."

O mundo corporativo, principalmente nas grandes corporações, vive de competições e inércia, navegar é preciso, pôr a criatividade em ação é essencial. Dando sentido ao trabalho, na dose certa e na direção correta, ele torna-se ponte para o benefício individual e social.


Wood Jr. Thomaz Wood Jr. é professor da FGV-EAESP e sócio da Matrix/
Consultoria e Desenvolvimento Empresarial. Ele é atualmente editor da RAE-Revista de Administração de Empresas...
www.cqh.org.br/files/[entrevista]%2015_0.pdf    “Executivos Neuróticos, Empresas Nervosas”,

Thomaz Wood Jr. escreve sobre gestão e o mundo da administração. ... viciosos,
comuns entre executivos, que minam o comprometimento com o trabalho ...



Livro: CuidadoTrabalho! - Perversões e Contradições da Vida na Selva
Corporativa - Editora Saraiva - THOMAZ WOOD JR

  

Basta uma sala,
um retroprojetor
e poucos
escrúpulos e
abre-se um
MBA.

--

Atenciosamente.
Claudio Estevam Próspero 
http://mitologiasdegaia.blogspot.com/ (Blog: Mitologias de Gaia)
http://criatividadeinovao.blogspot.com/ (Blog: Criatividade e Inovação)
http://redessociaisgovernanaliderana.blogspot.com/ (Blog:Governança e Liderança em Redes Sociais)
http://reflexeseconmicas.blogspot.com/ (Blog: Reflexões Econômicas)
http://poltica20-yeswikican.blogspot.com/ (Blog: Política 2.0 - Yes, WIKI CAN)

Um comentário:

  1. Manifesto contra o trabalho

    I

    A DITADURA DO TRABALHO MORTO

    Cada um tem que poder viver do seu trabalho, reza o princípio em vigor. Poder viver é, portanto, algo que está condicionado pelo trabalho, e não há direito à vida onde esta condição não estiver preenchida.

    Johann Gottlieb Fichte

    Fundamentos do Direito Natural segundo

    os Princípios da Doutrina da Ciência, 1797.

    http://o-beco.planetaclix.pt/mctp.htm

    ResponderExcluir